O grupo de recepientes do Consul Dr. Aristides de Sousa Mendes nas Nações Unidas
No passado dia 23 de Janeiro a Associação Cultural 25 de Abril de Toronto foi convidada a estar presente nas cerimónias em memória das vítimas do Holocausto em cooperação com o programa de Holocausto das Nações Unidas em parceria com a Fundação Aristides de Sousa Mendes (The Sousa Mendes Foundation) na cidade de New York, nos Estados Unidos da América do Norte.
A sede das Nações Unidas
Desta forma o nosso colaborador e dirigente da referida agremiação sociocultural AC25A de Toronto, Carlos Morgadinho, deslocou-se àquela grande cidade para, na data em questão, atender aquele importante evento no salão de conferências ECOSOC, sobre o projecto neste ano de 2013 sob a temática "Rescue During the Holocaust: The Courage to Care".
Momento da apresentação dos membros salvos pelo Dr. Aristides de Sousa Mendes
Com aquela enorme sala de conferências totalmente lotada foi passado o filme, "The Rescuers" do recipiente do premio Emmy, o realizador Michael King e produzido por Joyce D. Mandel e que foca não só o holocausto em diferentes países da Europa durante a 2ª Grande Guerra como também a vida real de Stephabie Nyombayire, uma activista anti-genocidio, que perdeu vários membros da família no recente 1994 holocausto no Ruanda, em África e o historiador Martin Gilbert que teve família que pereceu no holocausto.
O painel no salão de conferências das Nações Unidas antes da projecção do documentário/filme
Este excelente documentário só foi possível após exaustivos contactos com sobreviventes destes massacres por mais de 15 países. Somos de opinião que este filme ou outros similares que focam a intolerância, racismo e a exterminação maciça de populações étnico-religiosa deveria ser cadeira obrigatória a implementar nos programas/currículo académico de todos os jovens estudantes do ensino secundário.
Uma das alas da sala de conferências
Terminado o filme deu-se inicio à conferência/diálogo de interação com os presentes e o painel composto por elementos onde incluía o produtor Michael King e um sobrevivente do Holocausto quando tinha apenas 9 anos de idade, o conhecido arquitecto Leon Moed. A função de moderador esteve ao cuidado do director do departamento Outreach, das Nações Unidas, Maher Nasser.
Durante a discussão sobre o filme
Gostaríamos aqui de focar que o arquitecto Leon Moed, hoje quase octogenário foi salvo com a sua família pelo malogrado cônsul português em Bordéus, o Dr. Aristides de Sousa Mendes.
O arquitecto, que juntamente com os seus pais e um irmão, receberam o visto para entrar em Portugal
Todavia, a presidente da Fundação Aristides de Sousa Mendes no Norte da América, a Drª Olivia Mattis, conseguiu reunir, neste sarau, um grupo de mais de 50 elementos sobreviventes e descendentes de refugiados que em Maio e Junho do ano de 1940 foram recipientes da visa para entrarem em Portugal e assim escaparem a uma morte quase certa nos campos de concentração e exterminação nazis. Para perpetuar este momento foi tirada uma foto em conjunto com a presidente da Fundação e os dois netos do Dr. Aristides de Sousa Mendes.
Carlos Morgadinho com o Michael King, realizador do filme projectado
Pelo silêncio ao longo dos anos durante a vigência do Estado Novo de Oliveira Salazar em Portugal, onde o nome de Aristides de Sousa Mendes era tabu e sinónimo de desobediência e resistência às prepotências arbitrárias da ditadura, não foi possível a consulta dos livros e documentos nos arquivos respeitante ao processo de emissão de passaportes e visas pelo mencionado Dr. Aristides de Sousa Mendes. Assim muitos documentos se perderam por não serem registados nos livros e listas de recipientes e também ao facto de o Consulado ter esgotado os passaportes tendo grande parte doas autorizações, assinaturas e carimbos sido feitos em folhas soltas de papel e até, quando estes escasseavam em bocados de cartão e papel. Só, mais tarde, após a queda da ditadura no ano de 1974, o nome deste nosso herói, Dr. Aristides de Sousa Mendes, começou a ser citado e a ser conhecida a sua obra humanitária que segundo se consta os números foram além dos 35 mil salvos das garras da morte, dos quais cerca de 12 mil da religião judaica.
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Louis-philippe de Sousa Mendes, Drª Olivia Mattis e um recepiente do visto do nosso cônsul, Dr. Aristides
No vasta sala de visita os membros salvos pelo diplomata português e seus descendentes foram apresentados pela Drª Olivia Mattis pela maioria não se conhecerem ou nunca se terem encontrado. Segundo a sua presidente, a mencionada Drª Olivia Mattis, estão-se fazendo todos os esforços para a localização de mais membros salvos pelo Dr. Aristides de Sousa Mendes um trabalho não só oneroso e minucioso mas lento pois sabe-se que os refugiados após a entrada em Portugal seguiram outras rotas como Inglaterra, Brasil, Estados Unidos da América, Alemanha, México, África do Sul, Canadá, Austrália e outros mais países e todos esses caminhos têm de ser explorados em detalhe com grande empate de capital e mão de obra que de momento é praticamente impossível ou sonhar com pela escassez de recursos da Fundação.
A neta de Aristides, Sheila Abranches e o marido Darrel Pierce
Nesta reunião estiveram presente dois netos do Dr. Aristides de Sousa Mendes, o Louis-Philippe de Sousa Mendes, de Montreal, e a Sheila Abranches-Pierce de Seattle, no estado de Washington na costa oeste, que conviveram aqueles breves minutos com muitos sobreviventes da obra altruísta do seu avô.
Durante o convivio no restaurante Alfama
Finalmente procedeu-se a uma reunião com a Drª Olivia Matos, os dois netos do Dr. Aristides de Sousa Mendes, o realizador Michael King e muitos dos sobreviventes no restaurante Alfama sito em Manhattan, no # 214 East da 52nd Street (entre a 2nd e 3rd Avenue) onde mais uma vez em franco convívio se recordou a saga que muitos dos familiares dos presentes e não só passaram durante a ocupação da França pela Alemanha nazista no meio do ano de 1940 e a fuga precipitada para Portugal com a ajuda do então Cônsul Dr. Aristides de Sousa Mendes.
O arquitecto Eric Moed, filho do arquitecto Leon Moed
No entanto, como é óbvio, este evento no edifício das Nações Unidas não foi circunscrito ao nosso herói, Dr. Aristides de Sousa Mendes, pois no filme apresentado foram recordados outros nomes de figuras que também com a sua coragem arriscando não só as suas carreiras como a integridade física salvaram milhares de refugiados na então Europa invadida pelo louco Adolfo Hitler. Deixo aqui alguns dos nomes: Arcebispo Angelo Rotta; Cônsul Carl Lutz; cônsul turco, Salahattin Ulkumen; capitão britânico Frank Foley; os diplomatas polaco, holandês e sueco, Henryk Slawik, Jan Zwartendijk e Raoul Wallenberg, respectivamente; o cônsul japonês Chiune Sugihara além da avó do príncipe Charles da Inglaterra, a Princesa Alice, que escondeu uma família de judeus no seu palácio em Atenas salvando-os da deportação e da morte.
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Carlos Morgadinho com a presidente Drª Olivia Mattis e os primos Louis-Philippe e Sheila e o marido desta, Darrel Pierce, com a revista da AC25, medalha comemorativa e uma foto do Dr. Aristides
Confessamos que foi com muito orgulho e satisfação que a Associação Cultural 25 de Abril de Toronto se juntou a este memorável evento nas Nações Unidas onde um nosso compatriota foi um dos homenageados no documentário/filme de Michael King que nos mostra que os heróis portugueses do passado não são limitados aos feitos das armas na defesa do solo pátrio mas também alguém que no campo humanitário arriscou tudo desobedecendo a uma ordem do seu primeiro-ministro pela simples razão desta ser discriminatória e desumana pondo com esta recusa a sua carreira, pensão e sobrevivência na linha da frente por não seguir as ordens emanadas do seu governo de Lisboa.
Foi reconfortante, naquele dia, ouvir tanta gente a tecer elogios e agradecimentos, embora a título póstumo, a um verdadeiro humanista e herói dum passado recente, o Dr. Aristides de Sousa Mendes.
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